sexta-feira, 1 de abril de 2011

Um Chamado Para Oração Pessoal (Parte I) - Por Ralph Martin


Jesus, cujo relacionamento com o Pai era o mais íntimo possível, e cuja comunhão
era a mais ininterrupta, (exceto quando ele a sacrificou voluntariamente para provar
desolação e morte por nós), estabeleceu um exemplo notável de retirar-se para passar um tempo a sós com o Pai, até mesmo noites inteiras, e orientou os seus seguidores a fazerem o mesmo. Vemos também como ele deseja que os seus seguidores permaneçam perto dele, dando-lhe apoio e amizade pessoal.

“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e fechada a porta, orarás a teu Pai
que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará” (Mt 6.6).

“Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?” (Mt 26.40).

A decisão de entrar num relacionamento mais profundo com ele envolve necessariamente a determinação de passar tempo regularmente, em oração pessoal. Para a decisão ser efetiva, precisa ser concretizada em relação a tempo e lugar. De fato, escolher sabiamente o tempo e o lugar geralmente é um processo que demora a ser
satisfatoriamente concluído, e representa metade da batalha.

A HORA E O LUGAR CERTOS

Achar a hora certa vai exigir um pouco de reflexão e troca de idéias com as pessoas
com quem moramos e trabalhamos. Geralmente, parece que o melhor é escolher um
período diário para oração pessoal como uma das primeiras coisas na parte da manhã. Para alguns, porém, isto não é desejável, nem possível. Para alguns, marcar a hora de oração no período do almoço parece ser o melhor; para outros, uma hora à noite; para alguns a hora pode variar de dia para dia, mas se uma hora diária de oração não for marcada em cada um desses dias, é quase certo que isto não será uma prática regular, e talvez nem chegará a ser observada. Um corretor que conheço levanta-se bem cedo de manhã para orar; um engenheiro aeroespacial ora e lê as Escrituras na sua hora de almoço; um gerente de produção de uma firma de computadores ora depois que as crianças estão dormindo à noite.

A multiplicidade de exigências quanto ao nosso tempo e atenção é tamanha que se
não estabelecermos como prioridade passar um tempo sozinho com o Senhor cada dia, o
mais certo é que não o faremos. Alguns têm uma certa relutância para marcar horários
porque acham que isto representa falta de espontaneidade. Mas se considerarmos qualquer outro relacionamento importante, reconheceremos que no momento em que se torna um relacionamento sério, deixa de ser espontâneo (e casual) para ser comprometido e planejado. Se duas pessoas querem ser mais do que meros conhecidos, requer-se que concordem sobre a hora e o lugar onde possam se encontrar. Se os pais de uma família em crescimento quiserem passar tempo juntos regularmente, é necessário que o marquem, que o planejem, que arranjem uma babá para ficar com as crianças. Idéias românticas sobre espontaneidade são justamente isto: românticas e irreais. Há bastante lugar para a espontaneidade dentro de um relacionamento de compromisso e com horário marcado e regular para ficarem juntos. Pode haver horários extras juntos, sem planejamento, espontâneos. Pode haver espontaneidade dentro dos horários regulares. Mas se não houver uma base de um horário regular, comprometido, não vai haver um relacionamento. Pode ser que houve uma outra época em que a multiplicidade de exigências e a sobrecarga nos sentidos não fosse como em nossos dias (e pode ser também que não houve); mas hoje se não fizermos compromissos e garantirmos o seu cumprimento através de horários planejados, permitiremos que nossa vida seja governada por qualquer coisa que primeiro nos pegar. Geralmente não é o Senhor! Um horário que funciona é um dom do Senhor e uma expressão da sua sabedoria e amor. Tomar tempo para cuidadosamente planejar um horário para oração pessoal (como também para nossas outras responsabilidades importantes) pode produzir muito no sentido de solidificar o nosso relacionamento com o Senhor. Se o seu primeiro horário não funcionar, não desanime. Vale a pena lutar por anos para conseguir um horário certo, se for necessário, tamanha a sua importância.
Achar o lugar certo é também importante, embora não seja normalmente tão difícil
quanto achar a hora certa. Deve ser um lugar onde estejamos confortáveis (nem quente e nem frio demais); um lugar sem muitas distrações; um lugar onde não seremos
interrompidos; um lugar onde seja possível sentar-se, ficar em pé, andar ou ajoelhar-se conforme o Espírito orientar; um lugar onde se possa cantar ou dançar e não só ficar em silêncio. Se o lugar ideal não existe, arranje o melhor possível e Deus o honrará.
Por mais simples que pareçam ser as considerações de hora e lugar, a solução
satisfatória destes assuntos pode resolver muitos problemas espirituais.

UMA ESTRUTURA SIMPLES

Alguns sentem que qualquer espécie de método torna-se irrelevante depois que o
Espírito Santo foi liberado nas suas vidas. Sentem que oração “vem naturalmente”,
dispensando qualquer necessidade de instrução. A maioria das pessoas, porém, apesar de experimentar uma vida renovada ou uma vida nova com Deus no Espírito Santo, encontra problemas e dúvidas na oração e não se satisfaz com o seu progresso. Metade da batalha, mas apenas metade, é regularizar um horário diário e um lugar para orar. Muitos outros problemas surgem da falta de saber como passar um tempo aproveitável em oração. A maioria das pessoas, devido ao seu temperamento ou habilidade naturais, não é capaz de seguir, e nem se interessa facilmente pelos rigorosos sistemas de meditação das gerações passadas. Com a liberação mais ampla do Espírito Santo nas vidas das pessoas, o mesmo rigor nem sempre é apropriado ou útil para elas.

Eu gostaria de sugerir um tempo de oração com uma estrutura simples que permite
bastante variedade e correspondência à direção do Espírito, e ao mesmo tempo oferece
suficiente forma para não deixar a pessoa perdida nos tempos de sequidão. Esse tipo de estrutura vem naturalmente para alguns, mas de maneira alguma para todos. Mesmo
aqueles que já oram dessa forma espontaneamente encontrarão auxílio ao se
conscientizarem do que eles estão fazendo e do porquê, tanto para se prepararem para os inevitáveis dias de provação que virão, como para aprenderam a compartilhar sua
experiência e ajudar outros a alcançar uma vida constante de oração pessoal.

LEITURA ESPIRITUAL
Há um testemunho unânime de cristãos de todos os séculos que oração pessoal deve
ser sustentada pela leitura freqüente das Escrituras e de outros livros que revelem algo de Deus e que estimulem o desejo de conhecê-lo e amá-lo. Leitura espiritual não é necessariamente estudo. O alvo não é saber apenas pelo desejo do saber, ou saber para poder fazer alguma coisa. Num sentido qualquer coisa pode servir para aproximar-nos de Deus, e tornou-se moda, em alguns círculos, falar sobre o jornal como nossa leitura espiritual. O jornal pode casualmente ou secundariamente desempenhar essa função, mas não é o seu propósito primordial. Ler as Escrituras em espírito de oração, ficar à escuta da palavra do Senhor, isto é leitura espiritual. Ler a biografia de um grande homem ou mulher de Deus, com o propósito primordial de aprender como servir a Deus melhor e amá-lo mais, e ser inspirado para este fim, é leitura espiritual. Ler sobre as assembléias da igreja, ou a
formação de conselhos paroquiais, ou as tentativas dos estudiosos de harmonizar as
narrativas divergentes da ressurreição, embora útil e importante, não é leitura espiritual no sentido que estamos usando.
Quando as pessoas falam sobre o seu “tempo de oração”, muitas vezes estão
referindo-se ao tempo que passam em leitura espiritual e oração juntas. Já que as duas são tão intimamente ligadas, esta é uma maneira aceitável de falar desde que tenhamos clareza, sobre como as duas funcionam juntas e qual a distinção entre elas. O perigo de associar as duas atividades sob o mesmo título de “tempo de oração”, evidentemente é que torna-se possível passar a maioria do tempo lendo e pensando do que em oração. Para os nossos fins aqui, vamos aceitar a designação “tempo de oração” como referindo-se tanto à nossa leitura espiritual como à nossa oração explícita, e vejamos como as duas funcionam juntas.

Um método antigo de oração e leitura espiritual consiste em ler vagarosamente e em
espírito de oração uma passagem das Escrituras, dando uma pausa para deixar a oração
desenvolver-se dali, e alternando assim durante todo o período de oração. A regularidade da leitura protege das distrações, e a liberdade para passar à oração, conforme o Espírito dirigir, oferece a liberação necessária. É este método de oração atuante e leitura espiritual conjuntas que muitos têm achado proveitoso e que tem produzido verdadeira santidade...

Uma outra maneira de combinar leitura espiritual com oração seria passar a primeira
metade do nosso período de oração em leitura espiritual e a segunda metade em oração, ou vice-versa. Isto permitiria um desenvolvimento maior da oração através do louvor, adoração, petição, silêncio, ou o que for.
Se nosso período de oração for de meia hora, então quinze minutos podem ser
dedicados à leitura espiritual, e quinze à oração. Se temos uma hora, então meia hora pode ser dedicada à leitura e meia hora à oração. Esta é uma boa regra prática, mas deve ser considerada uma orientação geral e não uma lei fixa. Alguns dias podemos passar todo o período em oração, dependendo de como o Espírito está dirigindo. Algumas pessoas podem regularmente passar menos tempo lendo do que orando. Eu questionaria a atitude de passar o tempo todo lendo a não ser em ocasiões bem raras. O perigo é fazer da leitura espiritual um substituto para a oração. Seja qual for nosso método, é imperativo que deixemos o livro e nos voltemos para ter contato direto com o Senhor. A leitura é um auxílio, não um
substituto...

Não tenho a intenção de sugerir uma ordem para os diferentes elementos de oração
nas nossas devoções — louvor vocal primeiro, depois adoração silenciosa etc. Mas gostaria de indicar alguns dos elementos que devem ser regularmente representados na nossa oração, não porque decidimos incluí-los, mas porque são as coisas que o Espírito sempre anseia fazer em cada um de nós.

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